terça-feira, 22 de julho de 2008

Zuari

A minha formação é em agronomia, mas talvez me tenha formado na arte de pensar, se é que existe alguma. Penso que talvez tenha mentido para arranjar emprego. Acho legítimo. Um homem não de define pelo que faz mas pelo que é. Não suporto quando me tratam por engenheiro. Não sou o Sr. Engenheiro. Há uma identidade em mim, um Eu que tem um nome, superior ao que faço. Pouco me diz aquilo que faço ou o nome da minha família - Purificação Menezes - quem se lembraria de pôr purificação a um ser iníquo? Mas eu era o Sr. Engenheiro era nisso que me tinha tornado

- Sr. Engenheiro os rios são estradas. É fácil defendê-los a partir da foz é isso que sempre se fez. Sempre tentaram atacar-nos a partir daí. É de lá que virá o perigo.

Mas não estou interessado em defender rios. A pertencerem a alguém deveria ser ao mar, é para lá que marcham desde o princípio dos tempos. Agora constrói-se barragens e esvazia-se o mar, este não reclama, não tem títulos.
Mandaram-me fazer o estudo da bacia hidrográfica do Zuari . É importante estudar a sua navegabilidade e o seu assoreamento para que os barcos possam ir cada vez mais longe buscar o tão precioso ferro. A indústria não pára de se expandir e todos os dias vêem-se sair barcaças de minério. É um pedaço de Goa que é vendido para se transformar num parafuso.
Temo que quando terminar este trabalho me darão outro rio e não faltam rios em Goa.

Ainda me recordo de ser Agrónomo? Não entendo nada de agrimensura e menti-lhes ao dizer que tinha formação na área. Alguém terá confundido Agronomia com Agrimensura. Talvez me tenha enganado propositadamente ou talvez esteja a ser engolido por uma fatalidade do destino.
Mas o que faço prevalece sobre mim e vejo-me forçado a comparecer todos os dias no trabalho, a ir a toda a espécie de reuniões. Discute-se e ninguém considera a hipótese de estar de passagem, de ser um peão na ironia da história.

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