terça-feira, 15 de julho de 2008

A Carta


Recebi uma carta. A letra é do meu filho. Há uma alegria enorme em saber que no Universo alguém se lembra de nós. Depois vem o resto. Gostava de entrar naquela caligrafia, dentro do envelope e ser despachado para junto do meu filho. Não. Queria era que o meu filho fosse despachado em vez da carta. É aqui o lugar dele.
Já não sei onde é a morada de um homem que ficou sem país. Precisará de visto para voltar à sua própria casa? O caminho da diáspora é de sentido único. A esperança de um regresso ilude a realidade. Agarramo-nos com força ao que queremos acreditar, vivemos em função disso e somos felizes. Pensamos que enganamos os outros com a nossa felicidade, mas não nos enganamos a nós próprios. Depois a realidade é cruel, faz-nos sentir em cada dia o peso da razão. Transforma-se no escárnio da nossa consciência.
Esperava encontrar-me bem… Como poderia estar bem? Depois continuava a falar de grandes projectos para Angola, no contributo que dava nas fazendas de café, na plantação de cajus, na dominação de uma praga de gafanhotos. Deve ser difícil exterminar gafanhotos. Creio que o nosso mundo também está a caminhar lentamente para o extermínio. Nós somos poucos, e a única coisa que nos une é sentimento de fracção que nos percorre as veias. Terão sido os Portugueses a disseminá-lo para nos subjugar ou fará já parte da nossa natureza?

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