quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Jai Hind

Esforcei-me por aprender uma língua estranha. Fui rápido na forma como abracei a tua língua. A língua metafórica, claro. A real demorou mais tempo. Acariciou-me numa conversa igual ás outras. Talvez tenha sido um pretexto para me calares. Era quente como a língua que falavas. Talvez a conversa tenha sido um pretexto para um beijo apetecido. O hindi embalava-me. Era um dialecto diferente. Riamos quando imaginávamos as poltronas inglesas no seu leito:

-Oh Sweetheart… E o Ohhh prolongava-se num acento de Oxford que nos fazia rir em hindi. A tua língua tinha força, mas conseguia ser bonita. Mesmo quando marchávamos numa rua improvável e pobre, sentia a evocação de uma sentido poético. Era bela demais para ser gritada em slogans, ainda que ao teu lado. Via os teus olhos de ódio contra todos os que duvidavam da tua Índia.

-Jai Hind

E eu também gritava contigo nas ruas de Puna. Aproveitei a chegada da polícia para te abraçar. Como se precisasses da protecção de um meio adolescente…Mas eu era alto e a tua face colava-se-me ao peito. Nesse dia os longos bambus da polícia resolveram ignorar-nos -Jai Hindi - gritava ainda mais alto, num acento estranho à multidão. Contava provocá-los pelo pretexto de te proteger.

Nesse tempo desconhecia a fúria dos bambus. A forma como viriam a castigar o meu copo. Não era nem bravo nem tíbio, era um ignorante que gostava de gritar ao teu lado. Prezava o teu rosto no meu peito. Gostava da tua língua e de a sentir como nossa. Mesmo quando gritávamos o que nunca acreditei.

1 comentário: